Scan barcode
nzagalo's review against another edition
5.0
Não é um livro fácil e as razões para tal são várias — a estrutura é multilinear e descontínua; a forma é poética e de vocabulário rico mas escrito como torrente descritiva; e o contexto exigido é não só enorme como distante da maioria dos leitores contemporâneos. Não acontece muito, ou quase nada, em “O Dom”, muita nostalgia relatada por emigrantes russos fixados num espaço que é a cidade de Berlim nos anos 1920, e que tal como o espaço de Dublin, em “Ulisses” (1922) de Joyce, serve a Nabokov para agregar a estrutura fragmentada. Tudo parece sustentar-se num processo de regressão afetiva e na sua descrição por recurso a uma estilística de embelezamento máximo, completamente colada a Proust. Digamos que Nabokov, dotado de enorme virtuosismo, resolveu criar uma obra capaz de homenagear dois dos seus autores favoritos, mas a homenagem não se fica por aqui já que o tema do livro é nada menos que a Literatura Russa do século XIX, ou seja, a homenagem estende-se a Puchkin, Gogol, Tchékhov, Turgeniev, Tchernichevski entre muitos outros. Deste modo, para se poder iniciar algum envolvimento com a leitura desta obra convém conhecer algo destes autores, assim como deter algum conhecimento sobre o antes e o depois da Revolução Russa de 1917.
[Imagem]
[Publicado no VI, com imagens e links, em https://virtual-illusion.blogspot.lu/2018/03/livro-o-dom-1938.html]
Não conhecia todos os enunciados, faltava-me Puchkin e Tchernichevski, e por isso são os livros que se seguem, embora sejam dois autores em pólos opostos, ou seja, se Puchkin é o grande pai das letras russas, Tchernichevski é não só desconhecido fora da Rússia, como é aqui totalmente ridicularizado. Mas deixarei o meu comentário sobre o capítulo inteiro que se lhe dedica para quando acabar de ler o livro de Tchernichevski, que entretanto já comecei e em poucas páginas deu para quase compreender Nabokov. Digo quase porque tenho de confessar que me custou ler Nabokov, um dos meus autores de referência, num discurso de critica ad hominem. Aliás, não é por acaso que o capítulo não foi publicado aquando da primeira edição da obra em 1938. Ainda que perceba a qualidade muito baixa de Tchernichevski, só consigo compreender esta reação de Nabokov pelo caráter político que o livro de Tchernichevski adquiriu, ou porque o próprio Nabokov exerce uma crítica constante mesmo a si próprio como podemos ver no seguinte diálogo (Nabokov não gostava de Dostoiévski e era admirador de Flaubert):
“eu tenho gostos diferentes, hábitos diferentes; o seu Fet, por exemplo, não posso suportá-lo, e por outro lado sou um ardente admirador do autor de O Duplo e de Os Possessos, a quem você parece disposto a faltar ao… Há muito em si que não gosto, o seu estilo de São Petersburgo, a sua tara gaulesa, o seu neo-voltaireanismo e o fraco por Flaubert…” (p.342)
[Imagem]
As fotografias de Nabokov recordam-me sempre Hitchcock mas também a personalidade que ambos pareciam possuir — de estarem sempre prontos a pregar uma partida a alguém!
Existe um enredo amoroso no livro a que Nabokov faz referência no prefácio, diga-se semi-explicativo da obra, mas é um romance imensamente subtil, ainda que venha dar, em parte, resposta ao título. A essência do livro assenta no processo descritivo do mundo aos olhos de um jovem autor russo, recentemente emigrado para Berlim, à procura de se afirmar enquanto escritor, e nesse sentido, apesar de Nabokov dizer nesse prefácio que não é Fyodor, é ele quem ali vemos representado. Mais uma aproximação a Proust, que descreve o mundo através dos olhos de Marcel sem nunca dar conta de qualquer ligação com este. Aliás, na primeira parte o tom é bastante próximo do livro autobiográfico de Nabokov, “Fala Memória”, que só viria a escrever anos mais tarde. E já agora, a meio do livro acontece algo no mínimo estranho, ou talvez não, que é uma descrição breve do enredo de “Lolita” (1955), seguida de uma referência do protagonista que me obrigou a parar e ir verificar datas, dizendo “É estranho, pareço lembrar-me dos meus trabalhos futuros”. Ou seja, o romance existia muitos anos antes na cabeça de Nabokov.
Para se poder entender este texto, já disse que conhecer os autores acima é relevante mas é também relevante lerem mais sobre a obra — a sua data de criação, a vida de Nabokov, a sua fuga da Rússia, a política do país — e para tal recomendo vivamente o livro de Yuri Leving “Keys to the Gift: A Guide to Vladimir Nabokov's Novel”. Leving criou um compêndio das múltiplas abordagens possíveis à interpretação mas não é preciso lerem tudo, basta que leiam as entradas que mais vos interessarem. As chaves apresentadas por Leving vão desde a criação e publicação da obra ao contexto histórico do país e da literatura, passando pela análise da estrutura — altamente detalhada nos seus constituintes de título, enredo, narrativa, cenário, personagens, tema — ou do estilo, forma e método, ou ainda da receção crítica nas diferentes épocas, e muito mais. Digo que não é preciso ler tudo, porque o texto de Nabokov está tão carregado de símbolos e subtextos que tentar compreender tudo está apenas ao alcance de um labor intenso, fazendo deste uma boa obra para a realização de trabalhos académicos no campo da literatura.
Deixo uma breve explicação estrutural. O livro começa com um capítulo de contextualização da vida de Fyodor em Berlim, que aos poucos nos vai dando conta da sua vida passada em São Petersburgo, dos amigos deixados e dos novos entretanto criados. Nesta primeira fase Fyodor só escreve poemas. No segundo capítulo Fyodor recorda o pai, que tal como o pai de Nabokov morreu quando este tinha cerca de 25 anos, o capítulo é intenso e belo, e segundo os críticos segue o estilo de Puchkin. No terceiro capítulo temos uma mudança de espaço e o encontro com a amada, a escrita é menos embelezada mas mais escorreita, o estilo mudou novamente porque agora é Gogol que Nabokov nos dá. O quarto é o tal capítulo banido, não segue propriamente Tchernichevski, já que a abordagem é profundamente satírica, mas é completamente diferente de tudo o que veio antes e virá no último. Por fim, voltamos ao nosso herói Fyodor e a Zina, com o mundo a desejar recompor-se e a querer criar espaço para que o espírito do artista possa florescer.
O livro termina mais uma vez homenageando Proust, já que é dado a entender que o livro que lemos será o que Fyodor escreveu, e tal como em Proust, cria-se uma urgência por voltar ao início e reiniciar a leitura, reler tudo com um novo olhar, capaz de ler mais dentro das múltiplas camadas que protegem o sentir de Nabokov em “O Dom”, já que é inevitável sentirmos ao longo de toda a leitura que muito do que vamos lendo é-nos vedado, não só por falta de referências, mas também porque o próprio texto trabalha num modo auto-referencial muito joyciano.
Sobre a profundidade da análise da psicologia humana, algo caro a Nabokov, um estudioso da psicologia e muito crítico da fantochada de Freud, veja-se o seguinte descrito do que responde Fyodor a um potencial crítico do seu livro:
“Ao princípio queria escrever-lhe uma carta a agradecer, sabe, com uma referência comovente ao meu pouco mérito e assim por diante, mas depois pensei que dessa forma iria introduzir um odor humano intolerável no domínio da liberdade de opinião. E além disso, se escrevi um bom livro, era a mim que devia agradecer e não a si, tal como você deve agradecer a si próprio e não a mim por compreender o que é bom, não é verdade? Se nos pomos com vénias um ao outro, então, logo que um pare, o outro sentir-se-á magoado e ir-se-á embora vexado.” (p.339)
No final questiono-me se o título português é o melhor, mas por mais que procure, as interpretações são tantas que não é possível dizer muito, a não ser talvez que o título em inglês dá-se melhor às múltiplas leituras. No inglês (“The Gift”) pode significar Dom mas pode significar também Prenda, e se o nosso título atira imediatamente ao virtuosismo do escritor, o inglês permite ainda apontar para a homenagem à Literatura Russa, funcionando este livro como uma prenda de Nabokov em modo de despedida, já que este seria o seu último livro escrito em russo.
Publicado no VI, com imagens e links, em https://virtual-illusion.blogspot.lu/2018/03/livro-o-dom-1938.html
(Dei 5 estrelas, embora o prazer da minha leitura, tendo apenas em conta o livro em si, chegue apenas às 4. Terei de o ler uma segunda vez, depois de realizar mais algumas leituras, para poder entrar mais dentro do livro e assim chegar a uma absorção mais completa do todo.)
[Imagem]
[Publicado no VI, com imagens e links, em https://virtual-illusion.blogspot.lu/2018/03/livro-o-dom-1938.html]
Não conhecia todos os enunciados, faltava-me Puchkin e Tchernichevski, e por isso são os livros que se seguem, embora sejam dois autores em pólos opostos, ou seja, se Puchkin é o grande pai das letras russas, Tchernichevski é não só desconhecido fora da Rússia, como é aqui totalmente ridicularizado. Mas deixarei o meu comentário sobre o capítulo inteiro que se lhe dedica para quando acabar de ler o livro de Tchernichevski, que entretanto já comecei e em poucas páginas deu para quase compreender Nabokov. Digo quase porque tenho de confessar que me custou ler Nabokov, um dos meus autores de referência, num discurso de critica ad hominem. Aliás, não é por acaso que o capítulo não foi publicado aquando da primeira edição da obra em 1938. Ainda que perceba a qualidade muito baixa de Tchernichevski, só consigo compreender esta reação de Nabokov pelo caráter político que o livro de Tchernichevski adquiriu, ou porque o próprio Nabokov exerce uma crítica constante mesmo a si próprio como podemos ver no seguinte diálogo (Nabokov não gostava de Dostoiévski e era admirador de Flaubert):
“eu tenho gostos diferentes, hábitos diferentes; o seu Fet, por exemplo, não posso suportá-lo, e por outro lado sou um ardente admirador do autor de O Duplo e de Os Possessos, a quem você parece disposto a faltar ao… Há muito em si que não gosto, o seu estilo de São Petersburgo, a sua tara gaulesa, o seu neo-voltaireanismo e o fraco por Flaubert…” (p.342)
[Imagem]
As fotografias de Nabokov recordam-me sempre Hitchcock mas também a personalidade que ambos pareciam possuir — de estarem sempre prontos a pregar uma partida a alguém!
Existe um enredo amoroso no livro a que Nabokov faz referência no prefácio, diga-se semi-explicativo da obra, mas é um romance imensamente subtil, ainda que venha dar, em parte, resposta ao título. A essência do livro assenta no processo descritivo do mundo aos olhos de um jovem autor russo, recentemente emigrado para Berlim, à procura de se afirmar enquanto escritor, e nesse sentido, apesar de Nabokov dizer nesse prefácio que não é Fyodor, é ele quem ali vemos representado. Mais uma aproximação a Proust, que descreve o mundo através dos olhos de Marcel sem nunca dar conta de qualquer ligação com este. Aliás, na primeira parte o tom é bastante próximo do livro autobiográfico de Nabokov, “Fala Memória”, que só viria a escrever anos mais tarde. E já agora, a meio do livro acontece algo no mínimo estranho, ou talvez não, que é uma descrição breve do enredo de “Lolita” (1955), seguida de uma referência do protagonista que me obrigou a parar e ir verificar datas, dizendo “É estranho, pareço lembrar-me dos meus trabalhos futuros”. Ou seja, o romance existia muitos anos antes na cabeça de Nabokov.
Para se poder entender este texto, já disse que conhecer os autores acima é relevante mas é também relevante lerem mais sobre a obra — a sua data de criação, a vida de Nabokov, a sua fuga da Rússia, a política do país — e para tal recomendo vivamente o livro de Yuri Leving “Keys to the Gift: A Guide to Vladimir Nabokov's Novel”. Leving criou um compêndio das múltiplas abordagens possíveis à interpretação mas não é preciso lerem tudo, basta que leiam as entradas que mais vos interessarem. As chaves apresentadas por Leving vão desde a criação e publicação da obra ao contexto histórico do país e da literatura, passando pela análise da estrutura — altamente detalhada nos seus constituintes de título, enredo, narrativa, cenário, personagens, tema — ou do estilo, forma e método, ou ainda da receção crítica nas diferentes épocas, e muito mais. Digo que não é preciso ler tudo, porque o texto de Nabokov está tão carregado de símbolos e subtextos que tentar compreender tudo está apenas ao alcance de um labor intenso, fazendo deste uma boa obra para a realização de trabalhos académicos no campo da literatura.
Deixo uma breve explicação estrutural. O livro começa com um capítulo de contextualização da vida de Fyodor em Berlim, que aos poucos nos vai dando conta da sua vida passada em São Petersburgo, dos amigos deixados e dos novos entretanto criados. Nesta primeira fase Fyodor só escreve poemas. No segundo capítulo Fyodor recorda o pai, que tal como o pai de Nabokov morreu quando este tinha cerca de 25 anos, o capítulo é intenso e belo, e segundo os críticos segue o estilo de Puchkin. No terceiro capítulo temos uma mudança de espaço e o encontro com a amada, a escrita é menos embelezada mas mais escorreita, o estilo mudou novamente porque agora é Gogol que Nabokov nos dá. O quarto é o tal capítulo banido, não segue propriamente Tchernichevski, já que a abordagem é profundamente satírica, mas é completamente diferente de tudo o que veio antes e virá no último. Por fim, voltamos ao nosso herói Fyodor e a Zina, com o mundo a desejar recompor-se e a querer criar espaço para que o espírito do artista possa florescer.
O livro termina mais uma vez homenageando Proust, já que é dado a entender que o livro que lemos será o que Fyodor escreveu, e tal como em Proust, cria-se uma urgência por voltar ao início e reiniciar a leitura, reler tudo com um novo olhar, capaz de ler mais dentro das múltiplas camadas que protegem o sentir de Nabokov em “O Dom”, já que é inevitável sentirmos ao longo de toda a leitura que muito do que vamos lendo é-nos vedado, não só por falta de referências, mas também porque o próprio texto trabalha num modo auto-referencial muito joyciano.
Sobre a profundidade da análise da psicologia humana, algo caro a Nabokov, um estudioso da psicologia e muito crítico da fantochada de Freud, veja-se o seguinte descrito do que responde Fyodor a um potencial crítico do seu livro:
“Ao princípio queria escrever-lhe uma carta a agradecer, sabe, com uma referência comovente ao meu pouco mérito e assim por diante, mas depois pensei que dessa forma iria introduzir um odor humano intolerável no domínio da liberdade de opinião. E além disso, se escrevi um bom livro, era a mim que devia agradecer e não a si, tal como você deve agradecer a si próprio e não a mim por compreender o que é bom, não é verdade? Se nos pomos com vénias um ao outro, então, logo que um pare, o outro sentir-se-á magoado e ir-se-á embora vexado.” (p.339)
No final questiono-me se o título português é o melhor, mas por mais que procure, as interpretações são tantas que não é possível dizer muito, a não ser talvez que o título em inglês dá-se melhor às múltiplas leituras. No inglês (“The Gift”) pode significar Dom mas pode significar também Prenda, e se o nosso título atira imediatamente ao virtuosismo do escritor, o inglês permite ainda apontar para a homenagem à Literatura Russa, funcionando este livro como uma prenda de Nabokov em modo de despedida, já que este seria o seu último livro escrito em russo.
Publicado no VI, com imagens e links, em https://virtual-illusion.blogspot.lu/2018/03/livro-o-dom-1938.html
(Dei 5 estrelas, embora o prazer da minha leitura, tendo apenas em conta o livro em si, chegue apenas às 4. Terei de o ler uma segunda vez, depois de realizar mais algumas leituras, para poder entrar mais dentro do livro e assim chegar a uma absorção mais completa do todo.)
fionnualalirsdottir's review against another edition

Half way through this novel, we come on a scene where Russian writer Nikolay Chernyshevsky smudges his old boots with ink to hide the scuff marks, and freshens up his bootlaces at the same time by dipping them into the ink pot. Then he carelessly drops one of the ink-soaked laces onto a page he'd just written.
It’s difficult to imagine that scene in an age when we rarely see an ink bottle, never mind dip anything into it. The ink we use today is safely sealed in cartridges, and more often destined for electronic printers than for any kind of writing instrument. However, this little scene made me wonder what would happen if an inky bootlace fell on a page of Nabokov's writing. I imagined a snake of ink blots sliding across the text causing some words to disappear completely, others to be partially obliterated, their shape emerging from the blackness like phantoms. Still others would be transformed into new words by the deletion of a beginning syllable, a middle one or an ending.
And then I wondered how the text would read after the accident.
Like something in code?
Like something that has been censored?
Like something only partially formed, something that has not yet emerged from a chrysalis state?
Or like a text read in a dream..
[b:The Gift|8147|The Gift|Vladimir Nabokov|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1526825311l/8147._SY75_.jpg|144481], the last novel Nabokov wrote in Russian, and the most exciting of his I’ve read, offers all those variations, and much, much more.
Fyodor Godunov, poet and writer, is the first-person narrator of the book. But like a knight who has moved sideways and fallen of the edge of a chessboard, Fyodor seems to be outside the world of the main story, watching himself, the other knight as it were, still active on the squares of the storyboard, and referred to in the third person.
The early chapters of his narrative read like a dream in every sense of that phrase; Fyodor takes time out from describing daily life in Berlin in the 1920s - the chessboard of the main story - to look back at a time before the time of the story, a time that seems very remote and only visible as if through a moiré curtain. With a painter's eye for the effects of dissolving light and shimmering shade, he recreates a secondary narrative, the smoky outlines of that time before time, the childhood spent in a country that doesn't exist anymore but to which he holds the keys: Russia before the revolution. Fyodor mislays keys many times in the course of the book but he is certain that he will never mislay the keys to his Russia because he carries his homeland inside himself.
Ought one not to reject any longing for one’s homeland, for any homeland besides that which is with me, within me, which is stuck like silver sand of the sea to the skin of my soles, lives in my eyes, my blood, gives depth and distance to the background of life’s every hope? Some day, interrupting my writing, I will look through the window and see a Russian autumn.
To return to the framework of Fyodor’s Berlin story, there emerges within it a third entirely different but equally interesting narrative. Through a circuitous set of circumstances involving various interesting coincidences, Fyodor finds himself researching and writing a memoir of the Russian revolutionary writer-poet, Nicolay Chernyshevski (1828-1889) whose novels influenced many political activists including Lenin. But just as insects learn to mimic their surroundings in order to fool their enemies, Fyodor’s memoir is only the mimicry of a memoir. Though adequately factual and suitably literary, it is in reality a satire aimed at all the writer-revolutionaries like Chernyshevsky whose clumsy inky boots had trampled all over the literary legacy of Russia built so carefully by Pushkin, Gogol, Lermontov, Tolstoy, Bely and many more.
Not surprisingly, the editors and critics among the Russian emigré community in Berlin turn out to be very sharp-eyed predators who are not fooled by such a pseudo memoir (which the reader gets to read in its entirety in chapter four of [b:The Gift|8147|The Gift|Vladimir Nabokov|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1526825311l/8147._SY75_.jpg|144481]); they are not prepared to accept that the satire might contain truth, even if only an artistic one. Fyodor’s Chernyshevsky memoir is more or less blotted out, deleted, forgotten. (In a case of life imitating art, when Nabokov succeeded in having [b:The Gift|8147|The Gift|Vladimir Nabokov|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1526825311l/8147._SY75_.jpg|144481] published in serial form in a Paris emigré magazine in 1937, it appeared without Chapter Four. The Chernyshevski chapter had once again been censored, deleted, wiped out, just as had happened in its fictional existence. It didn’t finally appear in print until the 1952 edition of [b:The Gift|8147|The Gift|Vladimir Nabokov|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1526825311l/8147._SY75_.jpg|144481]).
Within the Russian doll that is [b:The Gift|8147|The Gift|Vladimir Nabokov|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1526825311l/8147._SY75_.jpg|144481] lies a fourth story: Fyodor’s personal struggle to be a composer of something more lasting than literary or political satire. Before tackling the Chervyshevski memoir, he had already been searching for his own literary destiny; was he a poet, or a dramatist, or perhaps a novelist? Eventually, like Proust's narrator, he begins to figure out what it is he really wants to write about and how he wants to write it. Reading between the lines, and in spite of false trails and coded wording, the reader realises that [b:The Gift|8147|The Gift|Vladimir Nabokov|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1526825311l/8147._SY75_.jpg|144481] itself is the chrysalis of the book Fyodor will one day write.
……………………………………………………………
If I've given more information than I usually do about the plot of this book, it was to emphasize the structure which I think is really brilliant. But rest assured, there are a few more Russian dolls wrapped up inside [b:The Gift|8147|The Gift|Vladimir Nabokov|https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1526825311l/8147._SY75_.jpg|144481]; Fyodor's Berlin life is full of character and incident, and provides a valuable record of the world of the Russian emigré community in Berlin in the 1920s.
alexeysidoruk's review against another edition
5.0
Nabokov used heavily his experience in this book, and it sounds very emotionally real. It is said that he see the goal of write in transforming the reader into the spectator, and he achieved it. Magnificent writing, many layers of narrative.
The book contains many contradictions. He combined conviction that any division of people according to ethnicity and nationality (I can't agree more) with deep dislike of everything German.
The book contains many contradictions. He combined conviction that any division of people according to ethnicity and nationality (I can't agree more) with deep dislike of everything German.
fedallah's review against another edition
4.0
«Ti è mai capitato, lettore, di provare la sottile tristezza della separazione da una dimora non amata? Il cuore non si spezza come quando salutiamo per sempre gli oggetti a noi cari. Lo sguardo inumidito non vaga tutt'intorno trattenendo una lacrima come se volesse portare via in essa il tremolante riverbero del luogo abbandonato, ma nell'angolo più bello dell'anima proviamo compassione per le cose che non abbiamo ravvivato con la nostra presenza, per le cose che abbiamo appena notato e ora lasciamo per sempre.»
Bello, bellissimo anzi.
Richiede attenzione ma soprattutto passione, se non amore estremo per la vera grande protagonista del romanzo: la letteratura russa.
Come già detto da altri, Il dono non è un libro facilissimo, e sì, nonostante penso sia accessibile a tutti, diventa più coinvolgente se si ha la fissa per Puškin, Tolstoj, Gogol’ e via dicendo. Ma sarebbe ancora meglio avere ben presente chi sia Černyševskij, autore di Che fare?, uno dei romanzi più importanti della storia russa/sovietica ma anche mondiale, se pensiamo al peso che ha avuto su uno dei due “Il'ič che hanno rovinato la Russia”, giusto per (semi)citare una frase del libro. Tutta l’opera ruota infatti attorno a questi due elementi, e nonostante ritenga che non sia obbligatorio aver letto il libro di Černyševskij, è però vero che ad un certo punto la lettura potrebbe diventare ulteriormente pesante e poco coinvolgente. Perché sì, pur avendo amato il libro, è innegabile che dopo circa cento pagine, il tutto inizi a rallentare, per non parlare del famoso quarto capitolo, ostico ma fondamentale.
Ma è qui che secondo me si vede il genio di Nabokov.
Nonostante la pesantezza di alcuni momenti, lo stile e la ricercatezza del linguaggio catturano e trasportano il lettore verso il centro dell’opera: l’amore dell’autore per la letteratura russa e la Russia pre-sovietica. Nabokov disprezzava Lenin e tutto quello che è venuto con lui e dopo di lui (arte, letteratura, architettura…), era un nostalgico vero, puro, uno di quelli che probabilmente si sarebbe emozionato davanti ai quadri di Aivazovsky, Savrasov e che avrebbe gettato autori come Ostrovskij o Okudzava nelle fiamme se tale gesto gli avrebbe permesso di riportare in vita Dostoevskij, Saltykov-Ščedrin ed in particolare Tolstoj.
«Provò un'improvvisa fitta di amarezza - perché in Russia tutto era diventato così scadente, così grigio e approssimativo, cosa l'aveva resa così stupida e ottusa? O forse l'antico anelito che spingeva "verso la luce" nascondeva un vizio fatale che era divenuto sempre più evidente man mano che ci si avvicinava alla meta, finché non s'era scoperto che quella "luce" era accesa dietro le finestre di una guardia carceraria? Quando aveva avuto inizio quella strana dipendenza tra l'acuirsi della sete e l'intorbidirsi della sorgente?»
“Il dono” è quindi l’eredità culturale e letteraria che Nabokov ha ricevuto dalla sua terra/non-terra. Tutto il romanzo è infatti costruito sfruttando situazioni e personaggi tipici degli autori russi, ed è bello cogliere i riferimenti sparsi praticamente ovunque. Non si tratta ovviamente di un plagio, ma più che altro di un gioco stilistico che coinvolge anche il protagonista Fëdor Kostantinovic Godunov-Cerdincev, che in fin dei conti rivive la vita dell’autore nel periodo in cui visse a Berlino decidendo così di lasciare per sempre la madrepatria. Il peso e il dolore di questa decisione, la mancanza di un ambiente a lui vicino, si fanno sentire per tutto il lavoro, anche grazie alle descrizioni che riguardano i migranti russi arrivati nella capitale tedesca.
Emozionante.
«Non sarà il caso di rinunciare una volta per tutte a qualsiasi nostalgia, a qualsiasi patria tranne quella che è con me, dentro di me, che si è attaccata come argentea sabbia di mare alle suole delle scarpe, che vive negli occhi, nel sangue, che dà spessore e profondità allo sfondo di ogni speranza? Un giorno, staccandomi dalle mie carte, guarderò fuori dalla finestra e vedrò l'autunno russo.»
ed_eddi's review against another edition
challenging
informative
reflective
slow-paced
- Plot- or character-driven? Character
- Strong character development? It's complicated
- Loveable characters? No
- Diverse cast of characters? No
- Flaws of characters a main focus? Yes
2.5
maybe i don’t like literature.
dyno8426's review against another edition
4.0
Vladimir Nabokov writes poetry in his prose and The Gift is as good as an example as any. His deep attachment to poetry is pretty evident and recurring in this one. This book is about an immigrated Russian author who moves to Berlin and dreams of writing a book that will set his place in this world. Right from the very beginning, the readers realise that the book they are reading is (to quite an extent) the very book our protagonist envisions as his literary offspring. With such a setting, the book explores various themes of alienation and nostalgia for one's homeland while being a foreigner in some place which never truly registers itself as one's own. More so prominent and personal is the theme of the challenges of a creative process like writing. The responsibility to create something which leaves an impression of significance and evocation of appreciation becomes a moral responsibility of any author. Achieving that in one's lifetime is the fortune of few and pursuit of so many. Unlike other fields like science, an author does not get the luxury to stand on the shoulder of giants in my opinion. Instead, to ever get noticed and remembered in the landscape of literature, one has to scale mountains of creation, originality and beauty, to the orders of magnitude that has already been witnessed and ever-present in our history: works under whose glorious shadows we bask and the greats whom we revere. It also coherently connects with a love for Russian fatherland that the protagonist declares time and again, which brings this dually laded expression. The first being related to literature where he revels in the prodigies that Russia has produced, like Pushkin, Gogol, and Dostoyevski - expressing this feeling of insignificance in front of the giants whom one admires and feels challenged by at the same time. The plot consists of a significant portion dedicated to the history of one such particular literary critic that the protagonists makes an object of his literary pursuit to produce. The second expression being of feeling a misfit in a place which is literally far and excluded from the place which cultivates and admires the beauty in life that one values. This particular portion relevant to Russian history would have been amazing for somebody familiar with it; and since unfortunately, my literary experience and historical knowledge has been very limited in this respect, I unfortunately found this part the most trying.
On the other hand, there is one part which I absolutely enjoyed and appreciated for Nabokov’s vivid imagination and mastery of expression. As a major component of this story, the protagonist often talks about his famous father, who was a naturalist by profession and whose speciality and scientific contribution was in the research and classification of butterflies (Lepidoptera is the scientific term for them that I came to know thanks to this). Like any child with a fortunate, wonderful childhood, one comes to admire one's parents and the protagonist's infatuation with his father resulted for his love for him and his profession, coupling both these loves in an inseparable manner. While he did not come to follow his father's footsteps, his memories always beckoned him to the times spent in his father with butterflies. The story also deals with protagonist's dream of writing a perfect book about his father which would be worthy and respectable enough of the fame and success he garnered as a naturalist. It also inherently relates to the internal responsibility that children face to live up to their parents, even when they move out of their lives and beyond the umbra of their expectations. Nabokov's lyricism in prosaic form is a delight delivered first-hand through his words. Although I don't feel equipped with the vein that pulsates with poetry, I could not fail to appreciate the beauty that lies with the expression, as much as with the idea, in the words written here.
On the other hand, there is one part which I absolutely enjoyed and appreciated for Nabokov’s vivid imagination and mastery of expression. As a major component of this story, the protagonist often talks about his famous father, who was a naturalist by profession and whose speciality and scientific contribution was in the research and classification of butterflies (Lepidoptera is the scientific term for them that I came to know thanks to this). Like any child with a fortunate, wonderful childhood, one comes to admire one's parents and the protagonist's infatuation with his father resulted for his love for him and his profession, coupling both these loves in an inseparable manner. While he did not come to follow his father's footsteps, his memories always beckoned him to the times spent in his father with butterflies. The story also deals with protagonist's dream of writing a perfect book about his father which would be worthy and respectable enough of the fame and success he garnered as a naturalist. It also inherently relates to the internal responsibility that children face to live up to their parents, even when they move out of their lives and beyond the umbra of their expectations. Nabokov's lyricism in prosaic form is a delight delivered first-hand through his words. Although I don't feel equipped with the vein that pulsates with poetry, I could not fail to appreciate the beauty that lies with the expression, as much as with the idea, in the words written here.
mangoh's review against another edition
a lot of references go over my head since I don’t know much about Russian literature. Also… I was going through a reading-rut at the time lol… I definitely want to finish this book but I’ll have to re-read when I decide to come back to it.
arosef1's review against another edition
dark
mysterious
reflective
slow-paced
- Plot- or character-driven? Character
- Strong character development? No
- Loveable characters? It's complicated
- Diverse cast of characters? No
- Flaws of characters a main focus? It's complicated
2.0
r00017a's review against another edition
reflective
medium-paced
- Plot- or character-driven? N/A
- Strong character development? No
- Loveable characters? No
- Diverse cast of characters? It's complicated
- Flaws of characters a main focus? Yes
3.25
obsessioncollector's review against another edition
challenging
emotional
funny
mysterious
reflective
5.0
"The most enchanting things in nature and art are based on deception."
Folks, he's done it again! Well, not really again, since this was written before the most famous of his works, but still--what a masterpiece! I will say that if you are planning to read this, be aware that it has a lot of references to previous Russian literature (as it was Nabokov's last book originally written in Russian), so it might be confusing if you aren't very familiar with that.
Folks, he's done it again! Well, not really again, since this was written before the most famous of his works, but still--what a masterpiece! I will say that if you are planning to read this, be aware that it has a lot of references to previous Russian literature (as it was Nabokov's last book originally written in Russian), so it might be confusing if you aren't very familiar with that.