A review by marcio
O jardim dos Finzi-Contini by Giorgio Bassani

5.0

Outro dia percebi que ultimamente tenho lido bastante livros que giram em torno do Holocausto causado pelos nazistas na segunda guerra mundial. Seus antecedendes, o ato, as consequências. É inimaginável o número de judeus que pereceram ou sofreram as consequências do Holocausto, assim como tantos outros, homossexuais, ciganos, testemunhas de Jeová. Poucos foram de fato responsabilidades e condenados pelos genocídios, sendo que muitos conseguiram fugir com a conivência de autoridades e viveram entre nós, como o mostro Joseph Mengele, aqui mesmo no Brasil.

E as barbáries e genocídios continuam, a tentativa de dizimar povos e grupos continua, inclusive temos noção clara em nosso próprio país quanto aos Ianomamis e outros povos indígenas, além dos quilombolas. Étnias na Asia, Africa, Europa, Américas, Oceania. Aparentemente nós, que nos consideramos humanos, não aprendemos a ser... humanos.

O jardim dos Finzi-Contini supreendeu-me de uma forma inesperada. Tenho a edição desde a adolescência, mas sempre tive a sensação que seria um livro denso e difícil de ler. E no entanto, a escrita de Giorgio Bassani é fluida, o desenvolvimento da história muito bem trabalhado.

Em síntese, trata-se da história de fundo auto-biográfico, de um menino de origem judaica, Giorgio, o narrador, que desde pequeno tem um certo fascínio pela família dos Finzi-Contini, igualmente judeus, mas que vivem num mundo à parte, em sua extensa propriedade. Os filhos praticamente não têm contato com o mundo externo. Os anos passam e já no início da idade adulta, os laços de Giorgio com a família Finzi-Contini crescem, em especial com a jovem Micòl, por quem se apaixona. No entanto, há um pano de fundo trágico a se formar enquando Giorgio se envolve e se deixa envolver com o hermético mundo dos Finzi-Contini: o facismo italiano. De início, as famílias de origem judia pensam-se protegidas, mas logo chegam as leis contra os judeus, o mundo ao seu redor começa a se fechar. E nesse mundo cinzento e trágico, os Finzi-Contini aparentemente continuam a acreditar que pouco há a temer.

No entanto, apegarmo-nos apenas à trama principal, que por si só já é interessante, deixa-nos cegos para a tragédia que se anunciava e na qual muitos judeus acreditavam estarem a salvo, muitos em razão de suas fortunas pessoais, outros por não acreditarem que a situação poderia alcançar o nível al qual se chegou. Para mim, esse pano de fundo torna a obra ainda mais poderosa, pois nos é possível antever, com o nosso conhecimento histórico, a tragédia, a monstruosidade humanda chegando a passos largos.

E não obstante, no presente momento, vemos essas tragédias a se formarem em diversas partes do mundo. Muitos soltam o grito contra as barbáries que se formam. Outros se monstram indiferentes, e até mesmo apoiam os algozes. Não podemos nos calar. É necessário soltar o grito para que novos holocaustos sejam evitados, e para isso é também necessário exercer a auteridade, perceber o outro.

Esses livros lidos e apreendidos, mostram-me que há muita luta ainda pela frente, pois a humanidade parece que pouco aprendeu como lidar com o seu próprio mal.