A review by filipe_bastos
História do Cerco de Lisboa by José Saramago

5.0

"(...) Um homem que me agradou logo que o vi, um homem que fizera deliberadamente um erro onde estava obrigado a emendá-los, um homem que percebera que a distinção entre não e sim é o resultado de uma operação mental que só tem em vista a sobrevivência, É uma boa razão, É uma razão egoísta, E socialmente útil, Sem dúvida, embora tudo dependa de quem forem os donos do sim e do não, Orientamo-nos por normas geradas segundo consensos e domínios, mete-se pelos olhos dentro que variando o domínio varia o consenso, Não deixas saída, Porque não há saída, vivemos num quarto fechado e pintamos o mundo e o universo nas paredes dele, Lembra-te de que já foram homens à lua, O seu quartinho fechado foi com eles, És pessimista, Não chego a tanto, limito-me a ser céptica da espécie radical, Um céptico não ama, Pelo contrário, o amor é provavelmente a última coisa em que o céptico ainda pode acreditar, Pode, Digamos antes que precisa."


Sempre que leio Saramago, de uma forma ou de outra, reconcilio-me com a literatura através daquele prazer genuíno e simples, fundacional, de quem escuta o sábio contador de histórias erguer um novo relato magnífico.