Cidade do Sol é uma obra política (um comunismo que deu certo), religiosa, filosófica, econômica. São insights que questionam o desenvolvimento crítico da construção de uma sociedade formada por seres humanos, sejam estes da época que o livro foi escrito (1602) ou de outra, como a nossa sociedade contemporânea. Essa crítica ao desenvolvimento crítico fica clara quando Campanella traz o seguinte trecho: "Mas, os habitantes de uma tal república seriam como os monges, que só estudam nos livros e, quando ouvem alguma coisa que não se acha neles, se escandalizam e se perturbam." (p. 65). O genial dessa obra é que o próprio escritor traz críticas a sociedade ideial que ele mesmo apregoa, rememorando a retórica de Aristóteles.
Além desse aspecto se observa inúmeros dogmas e estruturas cristãs enraizadas na obram e na construção da Cidade do Sol, trazendo à baila reflexões da Lei metafísica, com menções da filosofia de Santo Agostinho, São Crisóstomo, e outros filósofos cristãos.
As minhas críticas da obra se somam à percepção contemporânea do que seria uma sociedade ideial, ao qual não se admite uma igualdade seletiva (como Campanella menciona ao não inserir as mulheres em certas posições), ou seja, uma sociedade ideal é, antes de mais nada, aquela que, parafraseando Aristóteles, oferece tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida das suas desigualdades.